quarta-feira, 10 de novembro de 2010

um caso de amor entre o rico e o pobre


Desejo nestas linhas corrigir uma injustiça dita a respeito das pessoas ricas, principalmente daquelas muito ricas. Para começar, ser rico não é defeito algum, não é uma doença ou algum tipo de maldição hereditária. Se fosse, a maioria das pessoas não passaria a vida toda sonhando em enriquecer e lutando para ganhar milhões. E os que já nasceram ricos certamente iriam ao médico ou a uma igreja para se livrar desse terrível mal. Ser rico é conseqüência de vários fatores pessoais, sociais e outros que não é o caso debater aqui. O meu foco é outro.
O meu intuito mesmo é reparar um terrível engano quando falamos de pessoas muito ricas e dizemos: Rico não gosta de pobre. Não sei de onde tiraram essa idéia absurda! O leitor deve conhecer bem a parábola bíblica do rico e do Lázaro (Lucas 16:19-31). O rico era um sem-nome que vivia regaladamente com suas riquezas, enquanto Lázaro não passava de um despossuído coberto de chagas que jazia à porta do rico, comendo das migalhas que caiam no chão. As suas únicas companhias descritas na parábola eram os cachorros que vinham lamber as suas feridas. No fim da história, o rico morre e vai para o inferno colher o resultado de sua existência vã e vazia, enquanto o pobre regala-se no paraíso de Deus.
Existe algo que sempre me intrigou nessa parábola que o Senhor Jesus nos contou: Por que o rico tolerava a presença de Lázaro na sua casa? É interessante ler que o mendigo Lázaro desejava comer daquilo que caía da mesa do homem rico. Ora, ou ele esperava que os empregados fossem lançar fora e aproveitava para comer os restos, ou ficava literalmente “no pé da mesa” do rico de mãos abertas esperando as migalhas caírem. Seja como for, lá estava ele, sempre por perto, sempre presente. Por que o rico não o mandava embora ou chamava as tropas romanas para crucificá-lo? Meditando nestas coisas eu só consigo encontrar uma resposta: o rico gostava do mendigo Lázaro! Isso mesmo. Mas antes que me chamem de herege e me acusem de distorcer a verdade bíblica, quero apenas usar esta minha inquietação com relação ao texto para fazer uma analogia com os dias de hoje. Podem cancelar o telefonema para o inquisidor.
Olhando o rico e o Lázaro assim tão próximos, muitas razões me vem a mente para afirmar que os ricos “amam” os pobres. Sim, é verdade. E para não dizerem que estou falando asneiras, provarei a minha teoria. Vejamos algumas razões que nos levam a crer num caso de amor entre muitos ricos – não todos, é claro – e os muito pobres. Todas as razões que apresentarei partem de uma única premissa: OS RICOS PRECISAM DOS POBRES. Você duvida? Então acompanhe o meu raciocínio.

1) O rico precisa do pobre para sentir-se rico. Diante do pobre ele pode dizer: Como sou feliz por ter tanto dinheiro. Se não fosse a presença de quem nada tem, como alguém se enxergaria tendo alguma coisa?

2) O rico precisa do pobre para trabalhar por ele e para ele, para servi-lo. Para o rico, o pobre é apenas massa de manobra, mão de obra capaz de torná-lo ainda mais rico. Quanto mais pobres trabalhando, mais rico ele ficará. Livro que ele jamais lerá: O Monge e o Executivo.

3) O rico precisa do pobre para sentir-se poderoso. Como sabemos, a maior parte das riquezas do mundo estão concentradas nas mãos da minoria da população. Essa minoria é quem detém o poder político, social, midiático e financeiro do mundo. Diante dos muito pobres eles podem sentir-se os reis, os dominadores, os “deuses”.

4) O rico precisa do pobre para fazer obras filantrópicas e diminuir o desconto no seu gordo imposto de renda. Além de autopromover-se com obras filantrópicas e doações milionárias, o rico alivia a sua consciência pesada por ter tantas riquezas acumuladas enquanto a maior parte da população mundial padece de fome.

5) O rico precisa do pobre para consumir os bens e serviços que ele produz. Sem milhares de pobres consumindo as coisas que ele produz, como ele poderá enriquecer ainda mais? O pobre tem um alto valor de mercado.

6) O rico – quando além de rico decide enriquecer mais ainda entrando para a política – precisa do pobre para votar nele. E é aí que se pode ver mais claramente a intensidade do amor do rico: ele abraça criancinhas, visita as favelas, freqüenta cultos evangélicos, se preocupa com a saúde do pobre, com a sua segurança, educação, alimentação, finanças. É amor a primeira vista! E é aí que ele se rodeia de Lázaros, Severinos, Josés, Marias, Franciscos. Quanto mais ele amar o pobre, mais voto obterá nas urnas. Isso é que é amor!

                Estão vendo? Nunca mais digam que o rico não gosta do pobre, pois isso é uma injustiça, uma calúnia, uma difamação! Ele gosta e gosta muito. Bom, voltado à parábola citada, Jesus deixa claro que aquele “caso de amor” do rico para com o mendigo Lázaro não terminou muito bem – para o rico. Abraão, do céu, disse ao rico que jazia nas profundas infernais: “Filho, lembra de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui ele está consolado; tu, em tormentos” (v. 25). Esse caso de amor do rico com o pobre tem um final trágico. Queira Deus que os ricos usem as suas riquezas de maneira altruísta para amenizar um pouco o sofrimento desse mundo assolado pela miséria. Claro, somente um coração transformado por Deus pode fazer isso. Então, queira Deus que muitos corações milionários se transformem a cada dia.


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