domingo, 17 de abril de 2016

O DOCE SONO DA MORTE - Um poema da série: POEMAS DE FADAS




Branca de Neve comeu da maçã envenenada
E quedou-se em seu sono de morte
A espera que o príncipe encantado fosse acordá-la
Rodeada por sete anões que choravam por sua sorte.

Pobre princesa humilhada e perseguida
Pela insana madrasta que a invejava
Obrigada a fugir para salvar a própria vida
Contra tal crueldade que sua algoz destilava.

Os seus sonhos de princesa deixados para trás
A segurança do lar trocada pela incerteza
E agora, moribunda, repousa tranquila
Inerte, mas portadora de uma rara beleza.

Que príncipe beijará estes lábios pueris
Para trazer de volta à vida esta menina singela?
Choram os anões, as árvores e os animais
Rodeando o esquife que lhes lembra uma cela.

Doce Branca de Neve, o que estás a sonhar?
Teu rosto tão calmo e alvo ainda esconde um sorriso
Estarás a pensar em tudo o que perdestes
E a desejar adentrar pelas portas do paraíso?

Dias e noites passam nesta trágica desventura
E a doce menina alva insiste em continuar
Abraçada ao sono da morte até que o beijo da vida
Toque a sua face para que ela possa despertar.


09.04.2016

NA TORRE DAS PRIVAÇÕES - Um poema da série: POEMAS DE FADAS




Que tragédia aconteceu à meiga Rapunzel
Uma menina tão faceira e tão doce como mel?
Quem teria tamanha audácia de lhe dar este tormento
Aprisioná-la e retirar-lhe todo o seu contentamento?

Infância perdida longe das brincadeiras prazerosas
Privada de amigos e das flores mais cheirosas
O seu mundo resumiu-se às paredes amargas e frias
Se pudesses fugir, Rapunzel, o que farias?

Presa em alta torre, Rapunzel só pode sonhar
Com as alegrias que existem além do seu pensar
Sonha com um mundo para ela desconhecido
Com pessoas que jamais viu pelo seu acontecido.

O que existe lá fora além da floresta tão densa?
Em aventuras insólitas ela a todo instante pensa
Como será sorrir rodeada de muitos amigos?
Como será o gosto das amêndoas e dos figos?

Passear ao fim da tarde contemplando o sol se pôr
Ir à escola, brincar, machucar-se, sentir a dor
Tão simples desejos como sonhos belos, distantes
Liberdade tão mais preciosa que ouro e diamantes.

Espere, linda Rapunzel, tua liberdade há de chegar
Desta torre te libertarás e tua felicidade será sem par
O mundo será para ti um livro de muitas histórias
E todo este sofrimento há de se apagar da tua memória.


16.04.2016

DO VENTRE PROFUNDO - Um poema da série: POEMAS DE FADAS.




Velho Gepeto, o que foi que tu fizestes?
Esculpistes um boneco em forma de menino!
Onde ele está agora que respira vivo?
Abandonou-te preso, não olvidou teu ensino.

Tantos conselhos dados àquela criança de madeira
Que agora do mundo fez a sua morada
Mentiras contadas, amizades traiçoeiras
Humanidade desejada, mas desenganada.

Agora estás a colher o fruto da tua ilusão
Devorado pela fera que logo vai sorver
A tua carne, os teus ossos, as tuas entranhas
De ti restará apenas uma lenda a te enaltecer.

Ah, velho Gepeto, impossível de te arrependeres
Pinóquio é teu filho, mesmo que de madeira
Apenas um menino num universo desconhecido
Para ele, meu velho, tudo é de brincadeira.

Então ânimo, porque ele deve estar à tua procura
O elo que os une jamais poderá se quebrar
Suporta firme no ventre do grande monstro
Que o teu Pinóquio haverá de te libertar.

Suporta a tua prova e verás que valeu a pena
Esculpir o teu sonho diante de tantas lutas
Aquece-te no fogo, mantém firme a tua esperança
Que não tarda a recompensa das tuas labutas.



16.04.16