sábado, 19 de fevereiro de 2011

eu sobrevivi para contar a história



Domei a fera que me perseguia
E oprimia a minha vida cansada
Preparei a armadilha
E quando ela menos esperava
De caçadora passou a caça.
Agora ela vive presa
Na masmorra do esquecimento
E sem se alimentar
Ou ver a luz do sol
Poderá morrer a qualquer momento.
E de tudo o que ela me fez
Nem mesmo as cinzas restarão
Apenas uma vaga lembrança
Sem a mínima importância.
Enquanto ela desaparece
Vou curando minhas feridas
E os arranhões que ela deixou
Na minha alma e no meu coração.
Eu sobrevivi para contar a história
Da luta que tive de travar
Mas agora o passado é um tempo
Que passou e está esquecido
Lá atrás em algum lugar.
Morta está a fera ignóbil
O seu corpo se estende imóvel
Sob o chão que a recebeu
Para comer as suas entranhas.
E vivo estou para amar
Para desfrutar da liberdade
De estar preso a realidade
De que posso ser feliz.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

uma questão de prioridades



Eu podia falar de prosperidade
Eu podia falar de benção
Eu podia falar de unção
Eu podia falar de poder
Eu podia falar de vitória
Eu podia falar de autoridade
Eu podia falar em direitos
Eu podia falar em exigir
Eu podia falar em determinar
Eu podia falar em felicidade plena
Eu podia falar em fogo
Eu podia falar na língua dos anjos
Eu podia falar em tomar posse pelo poder da minha fé.

Mas quero falar de amor ao irmão
Ao próximo e ao inimigo
Quero falar de repartir o pão
E pensar naquilo que é do outro
Eu quero falar em humildade
Eu quero falar em servir
Eu quero falar em pedir perdão
Eu quero falar em perdoar
Eu quero falar em misericórdia
Eu quero falar em dar
Eu quero falar em tomar a cruz
Eu quero falar em renovar a mente
Eu quero falar em arrependimento
Eu quero falar em novo nascimento
Falar em chorar com os que choram
Falar em socorrer os aflitos
Falar em libertar os oprimidos
Em contribuir e ofertar
Eu quero falar em buscar as coisas do céu
Falar e viver em santidade como Santo é o Senhor
Falar que não existe maior poder
Que aquele que atua pelo amor.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

o ignobil



Lá vem o ignóbil desfilando pela rua
Montado no cavalo da sua arrogância
Ele acha que o mundo gira em torno dele
E trata as pessoas como se fossem objetos
Peças descartáveis de seus jogos de mentira.

Da sua boca saem palavras impressionáveis
Que adulam os que anseiam por bajulação
Ele vive à sombra das pessoas invejáveis
Usufruindo o seu poder para se firmar
Mas no fundo ele não passa de uma sanguessuga.

Os seus olhos estão fechados para os mais fracos
A sua boca não denuncia a injustiça existente
Os seus ouvidos só ouvem aquilo que lhe agrada
Os seus braços se cruzam diante da ganância
Porque apenas o seu umbigo lhe interessa.

Não importa quantas pessoas estejam ao seu redor
O ignóbil faz barulho para se mostrar
Espalha pelo mundo a sujeira dos seus pulmões
E somente na violência encontra sua razão
Porque não aprendeu a pensar e dialogar.

Seus ideais são forjados pelo lixo que consome
Hedonista, quer apenas esbanjar prazer
Baco é seu deus, Afrodite a sua deusa
Não consegue ver além dos desejos insaciáveis
Tudo e todos formam sua teia de luxúria.

Essa criatura insana progride na sua indecência
Negociando seu caráter, barganhando suas crenças
Ele é o objeto de um eterno leilão
Vendido a quem der mais pela sua vil pessoa
O seu valor é a soma das suas ambições.

Iludido ele brada pelo mundo a sua liberdade
Mas no fundo é um prisioneiro da libertinagem
Preso aos grilhões de uma vida vazia e devotada
Às máscaras que ele cria e que transformam a sua existência
Num espetáculo macabro de pura arrelia.

O ignóbil não tem medo de viver sua passividade
Diante das questões que atordoam o ser humano
Odeia a política como se dela não precisasse
Abomina a cultura como se dela nada absorvesse
Na História ele é um zero, por opção outsider.

Em todos os cantos e recantos da sociedade
O ignóbil encontra aprisco para o seu viver nefasto
Basta olhar para os lados e reconhecer a sua imagem
Na face daqueles que se dizem ser exatos
Mas que carregam a imagem de sepulcros caiados.

Engana os seus iguais com palavras bem pintadas
Manipula os sentimentos e pensamentos incautos
Diverte-se às custas das desilusões alheias
E sente prazer sórdido nas tristezas semeadas
É uma máquina mortífera de desprezo e discórdia.

Contempla-se no espelho, o ignóbil narcisista
“Espelho meu, existe alguém mais bonito do que eu?”
Seu mágico espelho mostra apenas o que ele quer ver
As coisas devem ser sempre do jeito que ele deseja
Um deus egoísta em forma de ser humano.

O seu pior inimigo está dentro dele mesmo
Mas sua vileza o torna amigo de seu inimigo interior
Seus complexos e seus traumas alimentam sua fornalha
Consumindo o que de bom poderia existir
Aniquilando a sobriedade de um viver reflexivo.

Dois pesos e duas medidas compõem sua balança
O seu sucesso é medrado pelo poder que possui
O Ser para ele não é nada comparado ao Ter
O valor das suas riquezas desvaloriza seu interior
Mesmo pobre de dinheiro ele é rico de soberba.

O ignóbil é tão normal quanto a noite e o dia
E está muito distante de ser um animal em extinção
Tem nome, endereço, identidade e família
É um camaleão camuflado e misturado aos demais
É alguém do lado ou dentro de cada um.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

confesso que ainda te amo



Quando bato a porta de outros corações
Na verdade é o teu coração que busco
Porque a minha alma tem sede de um amor
Que somente em você poderá saciar.

E em todos os olhares que encontro
Perdidos pelas veredas desta vida
Enxergo um pouco do brilho dos teus olhos
Que um dia iluminaram os meus.

O que busco tão desesperadamente então
Senão encontrar você na minha vida
Travestida de alguém que jamais será você?
O que quero senão viver mais uma vez
Todas as coisas maravilhosas e profundas
Que somente ao teu lado pude viver?

Ah, como eu queria regressar ao momento
Em que os teus lábios que um dia beijei
Disseram que você não mais seria minha!
Como eu queria que meus ouvidos
Que outrora escutaram tantas juras de amor
Jamais tivessem ouvido palavras duras de adeus!

O que me resta apenas é acordar triste
Com um silêncio que grita dentro de mim
Palavras desbotadas que ecoam na minha alma
Com um imenso vazio que preenche o meu coração.

De que me serve existir em um mundo
Onde não existe a tua mão para me afagar?
De que me adianta possuir todos os sentidos
Se não ouço a tua voz, se não vejo a tua face
Se não provo dos teus beijos
E se não me inebrio mais com o teu perfume?

Oh, crueldade da minha existência
Que busca ser preenchida por ilusões
Que não me levam a nada
E a cada dia mais me afastam de você!
Oh, insensatez de um coração ferido
Que verte lágrimas escondidas e sofridas
Por não querer admitir a cruel realidade
De que ainda e sempre te ama!

Quando passar a tempestade em minha vida
Talvez ainda reste no meio dos escombros
Uma bandeira hasteada pedindo paz.
Talvez tudo aquilo que vivi
Toda essa experiência sufocante de não ter você
Tenha servido para algo além de me fazer sofrer.

Mas por enquanto continuo buscando
O caminho do qual eu me perdi
E insistindo em reviver tudo aquilo
Que um dia me trouxe felicidade.

Na calada da noite as lágrimas seguem rolando
E a todo instante me fazem recordar
Que um amor verdadeiro é para sempre
Mesmo que por um tempo adormecido no peito
Porque nem mesmo a nossa frieza
Ou a dureza do nosso coração
Jamais poderão apagar o amor.

Onde quer que você esteja estarei te esperando
Ainda que minha alma te busque nos lugares errados
E por mais que o tempo passe
Por mais que para você a nossa história de amor
Seja apenas uma lembrança turva de um passado sem importância
Estarei fiel àquilo que um dia lhe prometi
Quando Deus nos uniu e fez nossos caminhos se cruzarem:
Te amar para sempre e muito mais além
Pois nem a morte poderá nos separar
Porque em breve estaremos unidos
Àquele que nos amou e nos aproximou.

Sim, meu amor, confesso que ainda te amo
E que a minha vida sem você
Tem sido um existir sem viver.
Confesso que tenho anestesiado o meu coração
Com a ilusão de que é possível esquecer
Que você é e sempre será o meu grande
O meu único e o meu eterno amor.

Ah, meu amor, eis que ainda sou teu
No mais profundo do meu ser
E mesmo que meus olhos às vezes
Busquem outros olhares que não o teu olhar
Os olhos do meu coração estão fitos em você
E na certeza que aquilo que Deus me deu
Ninguém jamais poderá tirar.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

com olhos de criança





Para a vida ser melhor
E para a humanidade ter esperança
É preciso olhar o mundo
Com olhos de criança. Mas que criança?

Como aquelas que olham o mundo
Com os olhos turvos de fome
Que enxergam somente a miséria
Que dia-a-dia as consome?

Com os olhos daquelas crianças
Que convivem diariamente com a violência
Dentro ou fora de casa
Cumprem sua pesada penitência?

Com os olhos das crianças de rua
Que não enxergam um destino melhor?
Cheirando cola, roubando para sobreviver
Sabem sua sina de cor.

Como as crianças abandonadas
Jogadas no lixo como coisa qualquer
Aliciadas por corações sombrios
Que das meninas fazem mulher?

Com os olhos de crianças amedrontadas
Surradas pelos pais que deveriam amá-las
Mortas em rituais satânicos
Feridas a fogo, mortas a balas?

Ou com os olhos daquelas outras
Filhas de ricos e poderosos
Que têm tudo e desconhecem limites
E crescem adultos desrespeitosos?

Como as crianças vitimas das guerras
Subsistindo em campos de refugiados
Dilaceradas por minas terrestres
Vitimas de um povo angustiado?

Como essas crianças olharão o mundo?
O que o mundo representa para elas?
Talvez seja um grande campo de guerra
Talvez seja sua eterna cela.

O que essas crianças se tornarão:
Homens-bomba, traficantes, assassinos?
Será por elas que o mundo chora?
Será por elas que dobram os sinos?

Olhar o mundo com os olhos da fé
É trazer de volta a esperança
Mesmo que o pobre esteja com fome
Mesmo que não haja crianças.

Com fé as crianças crescem
Livres, felizes, saudáveis e realizadas
Mesmo que o mundo lhes maltrate
Mesmo que sejam desprezadas.