domingo, 17 de abril de 2011

confissões de um viciado



Todas as pessoas que me conhecem, e até mesmo aquelas que jamais me conheceram ou me conhecerão um dia, saberão de algo que venho escondendo há bastante tempo, um lado meu oculto que jamais compartilhei com ninguém, uma coisa que talvez alguém de olhar mais aguçado já tenha percebido em mim. Sim, pretendo nestas poucas linhas desvendar o meu maior segredo, o meu lado enigmático, o Mizael que se esconde detrás do espelho do meu rosto. Este Mizael só é totalmente conhecido por Deus e parcialmente conhecido por mim.
                Eis o que sou: UM VICIADO. Sim, eu confesso, sou um viciado e há muito tempo venho lutando para sustentar o meu vício. Tudo começou quando eu tinha apenas doze anos de idade. Sei que é muito cedo para alguém se iniciar nessa vida, mas não pude fugir, porque foi muito mais forte que eu, principalmente naquela idade, com minha mente infantil se formando ainda, quase chegando à adolescência, a idade da busca por razão. Não me lembro bem como foi a primeira vez, mas sei que as sensações que senti foram muito boas, me fizeram voar e conhecer lugares e coisas que eu jamais pensei existir. Eu me senti como um super-homem, um ser capaz de fazer qualquer coisa. E eu fazia!
                O que começou com algo infantil, simples, foi-se transformando ao longo dos anos, foi ficando maior. Eu sentia o meu vício pulsar nas minhas veias, na minha mente, no meu coração. Quanto mais eu tinha, mais eu queria ter. Não me contentava com pouco, não suportava viver sem aquilo que tomara contra totalmente de mim. Eu estava preso, encarcerado ao meu vício como um leão numa jaula. Quanto mais o tempo passava, mais eu buscava novas formas de me saciar, com coisas maiores, mais complexas. Eu precisava de mais, precisava evoluir, experimentar novos horizontes para conseguir manter minha mente tranqüila. A cada dia eu me aprofundava mais e mais.
                Na minha maioridade conheci uma pessoa, um jornalista. Ele me fez uma proposta. Eu não pensei duas vezes e aí ele me iniciou num novo caminho, numa nova forma de saciar o meu vício que eu jamais havia experimentado. Confesso que isso marcou profundamente a minha vida, mudou completamente o meu ser. Quando experimentei aquilo que o meu amigo jornalista me ofereceu, foi como se eu caminhasse nas nuvens, tocasse o céu, pairasse sobre o mar, beijasse o horizonte, abraçasse o arco-íris. Nunca mais fui o mesmo. E sempre pensava: Quero mais! Preciso de mais! Não tardou para eu viver numa compulsão de me aprofundar cada vez mais nesse vício.
                Durante algum tempo vivi uma síndrome de abstinência, pois não conseguia formas de alimentar o meu vício. Eu me sentia vazio, vivendo uma vida sem sentido. Olhava para as pessoas que possuíam o mesmo vício que eu, felizes, consumindo o que mais amavam, e eu ali, incapaz. Eu fazia de tudo para alimentar a minha compulsão, mas nada acontecia, nada havia, nada dava certo. Tentei outros caminhos, outros vícios; atirei para todos os lados para ver se conseguia acertar em algo, mas foi inútil. Não há nada pior do que você ser privado daquilo que mais ama, daquilo que depende para viver.
                Mas finalmente o meu tempo de deserto passou. O vício que eu experimentava de formas tão limitadas se expandiu quando duas coisas aconteceram na minha vida: quando comecei a trabalhar numa livraria e quando me converti a Jesus. Esses dois fatores só serviram para aumentar ainda o meu vício, principalmente as formas de manifestá-lo e saciá-lo. Hoje posso dizer que sou um viciado bem-sucedido e completo. Não só alimento o meu vício diariamente como posso compartilhá-lo com outras pessoas e estimulá-las ao mesmo vício que eu. É maravilhoso quando consigo encaminhar alguém pelas mesmas veredas que tenho trilhado.
O que espero para o futuro? Poder me viciar a cada dia mais e contaminar a vida de todos com o mesmo vício que contaminou a minha. Esse vício foi Deus que me deu. Amém.
                Antes que eu me esqueça, o meu vício é ESCREVER.

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